PRÓTESE 01
Meus queridos dentes: é com pesar que hoje, estou me despedindo de vocês. Foram muitos anos grudados uns nos outros. Eu acho que uns 60 anos, ou mais. Quem sabe? É por isso que venho aqui publicamente me desculpar. Pedir a vocês que me perdoem, porque se eu soubesse que um dia iria lamentar tanto a falta de vocês, se tivesse tido orientação... Teria zelado mais de vocês, como manda o protocolo: usaria pedras para quebrar o licuri e não os dentes; para abrir garrafas, existe o abridor, ou até mesmo a quina do balcão, não havia a necessidade da apelar pra vocês; só pra querer chamar atenção. O chopp gelado, por cima do PIRÃO de mocotó, é uma martelada em vocês, a limpeza constante não toma tanto tempo, não é tão difícil, ou chata como eu sempre imaginei... Enfim, detalhes simples, atitudes simples, que a minha rebeldia, aliada à minha ignorância e falta de informação, me impediram de tomar. É por tudo isso, que hoje tomei tantas agulhadas de anestesia na gengiva, fora os pontos e o incômodo que é sair à rua com a boca murcha e a dicção ininteligível, por cota de tantos cortes. Mas agora, não há mais CORTE para apelação não tem mais retorno...! Agora, é tentar adequar a minha boca ITIUBENSE aos os novos inquilinos.
S. Paulo, 01/06/2022 CORDEIRO de ITIÚBA
Enviado por CORDEIRO de ITIÚBA em 08/08/2024
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