ISOLAMENTO
Trago de cabeça uma frase do mestre RAIMUNDO SOUZA, em que dizia, meu neto com quatro anos já conhece dinheiro (eu era o orgulho do vovô). No meu Urubu, na minha ITIÚBA, acho que só a dona Aurelina, não conhecia dinheiro. "Conhecer dinheiro" era saber o valor das cédulas, confundir dinheiro com outras coisas, ninguém confunde. Quer dizer, agora com essa Covid-19, atazanando a vida das pessoas, com esse ISOLAMENTO, não se usa mais dinheiro. Tudo, ou quase tudo o que se compra, é pago com cartão. De modo que dinheiro em espécie, circula muito pouco. E eu por conta disso (pode ser pela idade também), dia desses, quase passo pelo vexame de ser conhecido como alguém que não conhece dinheiro. Que não conhece literalmente!
Foi assim: em Santo André, na avenida Vieira de Carvalho, tem um ponto de ônibus bem em frente a um banco e num abençoado dia, eu estava lá aguardando o transporte coletivo, quando vejo um maço de papel ali no chão na minha frente. Olhava aquele pacotinho simpático, familiar, mas não me lembrava bem o que era aquilo. E como todos sabem, nessa quarentena, o movimento de pessoas é pouco, como também a circulação dos ônibus. Ainda bem, que o ônibus demorou, porque nesse impasse, do nada fui surpreendido por uma moça me perguntando: senhor, esse dinheiro aí no chão, é seu? Do nada também, me surpreendi com uma resposta que me salvou daquela situação: respondi, é sim, caiu aqui do meu bolso, mas na hora de pegar, a minha coluna travou, ainda bem que você apareceu. Você pegaria para mim? Ela agachou, pegou me entregou e eu pus no bolso. Agradeci, ela foi embora, em seguida o ônibus encostou no ponto e eu vim embora. Em casa, deixei ele na quarentena e quando fui conferir, tinha o suficiente para comprar carne, carvão e cerveja para um churrasco com os amigos, mas o ISOLAMENTO não permite aglomerações, vou comer e beber sozinho.
S. Paulo, 04/07/2020
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